População de rola-brava dá sinais de recuperação.
Esforço de redução drástica da caça feito em Portugal está a produzir efeitos.
É este o princípio da caça adaptativa e, neste campo, Portugal sempre foi pioneiro ao nível da União Europeia.
Relembramos que Portugal ao longo dos anos tem vindo continuadamente a reduzir o esforço de caça à rola-brava (ou Rola-comum, Streptopelia turtur) passando dos 15 exemplares que podiam ser caçados diariamente até à época venatória de 2004-2005, até aos 4 exemplares que podiam ser caçados deste a época de 2017-2018.
Este é o histórico das alterações feitas aos limites diários de abate, ao longo dos anos em Portugal, para contrariar a redução das populações de rola-brava:
- Antes 2004-2005 – Limite diário de 15 rolas
- 2006-2007 – Limite diário de 10 rolas
- 2010-2011 – Limite diário de 8 rolas
- 2012 a 2016 – Limite diário de 6 rolas
- 2016-2017 – Limite diário de 5 rolas
- 2017-2018 e seguintes – Limite diário de 4 rolas
Mas mais do que a redução dos limites diários de abate, foi em 2019 dado um passo fundamental a recuperação da rola-brava com a assinatura do Memorando de Entendimento para a Conservação e Recuperação da Rola-comum, subscrito pelas OSC de 1.º nível, Coligação C6, ICNF e INIAV em 2019.
Relembramos que foi então feita uma redução drástica dos dias de caça, passando a caçar-se apenas 4 dias (em 2019-2020) e apenas 4 manhãs já na época venatória passada, modelo que foi seguido para a presente época, não fora a alteração inesperada agora decidida pelo Estado Português.
Por todas estas razões, Portugal não foi alvo de procedimentos e queixas da Comissão Europeia, ao contrário do que aconteceu com Espanha e França em anos anteriores, fazendo com que estes países fossem agora forçados a implementar a quota zero.
A acompanhar todo este esforço de redução da caça, de forma continuada e marcada, em especial nas ultimas épocas e no espírito do Memorando de Entendimento para a Conservação e Recuperação da Rola-comum, é com satisfação que vemos os resultados a aparecer no terreno, como o demonstram os dados publicados pela SPEA relativamente ao Censo de Aves Comuns (CAC) onde se constata um crescimento significativo da população de rolas em 2019, para níveis que já não se viam deste 2005.
E estes dados dizem respeito ao período anterior à implementação da redução dos dias de caça, sendo que as informações que vamos recolhendo no terreno evidenciam a continuação dessa recuperação.
Apesar da batalha pela conservação e recuperação da rola-comum estar longe de estar vencida, os dados são animadores e os caçadores e OSC estão entre os principais interessados em que esta tendência de crescimento de mantenha e reforce nos próximos anos.
A informação que consta do comunicado produzido pelo ICNF, publicado no Facebook desta entidade, não é assim correcta ao afirmar que:
«Tanto as medidas restritivas de caça a esta espécie já implementadas, assim como a redução dos limites diários de abate, ou a redução drástica do número de dias de caça, não produziram efeitos no contínuo declínio destas populações.»
Os dados existentes confirmam que o declínio em Portugal foi estabilizado e invertido.
Importa também salientar que o declínio das populações de rola-comum na Europa não é continuado, sendo que efetivamente ocorreu um declínio acentuado até aos anos 80 do século passado e de então para cá o declínio tem vindo a diminuir e a estabilizar em especial em países como Portugal e Espanha onde a rola-brava é caçada e gerida.
O PROROLA, projecto que deveria ter arrancado em 2019, permitiria aferir com exatidão o efeito das medidas implementadas em Portugal.
Infelizmente esse projecto fundamental ainda não passou do papel com excepção do trabalho de recolha de amostras feito pelas OSC em 2019, que acabou por não ter seguimento porque falhou o financiamento, apesar deste ter sido assumido e assegurado por membro do governo, com a ratificação do memorando de entendimento.
A conservação e recuperação da rola-brava é estratégico e deve ser uma prioridade de todos.
O Sector da Caça está na linha da frente desta batalha em colaboração com todos os parceiros para que as populações de rola-brava possam voltar a níveis elevados.
E isso consegue-se com caça adaptativa, como a que vínhamos a fazer em Portugal, e com gestão no terreno, nas zonas de caça, para além da necessária monitorização e investigação científica como a prevista no PROROLA, envolvendo todos os parceiros, nomeadamente ICNF, OSC, ONGAs, INIAV e universidades.